quarta-feira, 19 de abril de 2017

Colunatas



Soluço meu desencanto
desacelerando a máquina viciada dos dias
e recobro o viço perante às esperas.
As colunatas estão em riste
apontando um céu promissor de estrelas ainda desconfiguradas.
Não é ruína a construção que se balança –
Pois que foi só um vento forte com vozes de um avantesma
desenterrando as raízes de um dia.
Igrejas pegaram fogo nessa noite insensata,
os lobos uivaram socorro, mas ali ninguém mais via.



Quando a sagrada imagem calada despencou do altar
a alertar que gesso e forma também se assemelham à farinha,
Nossa Senhora não se chorou.
(Quatro é a matéria; três o indizível;
dois é complemento; um é o segredo)
E o mesmo vento que veio de castigo atiçando o fogo das velas,
profundo sopra os cacos e palhas e cinzas que já se perdem na planície vasta.
Agora durmo, secretamente sorrindo essa glória.

As flores mortas deste altar já foram eu nessas campinas,
mas tudo morre - isso é ilusão.
O que perece recebe o inédito formato.
Depois de tanto sangue, vazio me encho de espírito,
distante de tudo a lembrar das charnecas ensolaradas,
outra estação.
O sonho me diz seus braços afundados no pântano,
mirando passados que não se ativeram ao seu controle.
Sorrio. Nada mais posso.

Subi aos céus depois de temer infernos frios
escorregando as pernas com a lama que ainda me gruda
por eu querer me resgatar.
Abriga no caminho da ascendente colunata o meu aceno louco ao Todo
E premedito a esperança do topo assoviando como menino.
Bebo meu medo no cálice de minha concha
E durmo mais dez mil anos pensando em mim.
"Coragem" - soçobram do olvido...
Em mim tudo é Verbo -
então, penso em Deus.
Aceito a mão se me busca, careço o zelo,
E é sempre estranho o brilho da primavera depois do inverno e de tanto gelo.

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