sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Corpo

CORPO



Antes de me ver eu,
quero me ver sangue.
Colher aorta,
vermelha vida espessa,
meu alimento.
Esse pulsar incessante,
antes que um dia pare
o perfeito bombeio.
Segue teu ritmo.

Ver o diafragma nascer
engolindo as mesmas brisas
que correm livres nas cidades -
como no basculante do meu banheiro.
Arrebata-me desde o suspiro
e cresce como ventania enquanto canto agora.
O vento que entra em mim
participa de mim
e sai de mim levando o meu cheiro.

Experienciar gotas e soluçar, soluçar, soluçar,
sem busca de solução.
Corpo-maquinário que verte lágrima
e lacrimejar a emoção que incorpora,
toma o corpo, me chega.
Apenas sentir a urgência de existir:
A dor de cabeça que me lembra da cabeça,
o cuspe que me molha o meu dentro,
pressões de jatos constantes.
Esse corpo é mais que Eu,
meu corpo é muito antes.

Sou o orgasmo que me insiste órgão tocando denso
a sinfonia do sim misterioso que ouvimos ao nascer.
Sou bile, quero o suco,
a organela que vibra,
a transmissão elétrica,
o tonteio de fome
e o dedo da escrita.

Segue teu ritmo.
Meu corpo é um templo de perfeição;
meu Eu, aquele que aprende a orar.