quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Bicho

Eu e minhas asas de grilo.
Bicho esquisito,
Bicho-folha,
Bicho-pau;
Bicho vendo as nuvens no matagal
Estendendo-se selva,
Entendendo-se seiva,
Transformando à mando
Da mão do deus amando aos seus.

Mistura e mistério de tudo
Feito da floresta, o resto
Composto do rosto do Todo.
Incesto, filho divino
Isento de escolha.
Inseto na encolha
Colhendo para a colônia
Alimento de oferenda.

Rendam-se então à insônia,
Notívagos bichos de mim!
Não durmam que a vida é curta,
Explorem sereno e brisa!
Ovo-larva-pupa-palavra,
Velocidade da luz, criação.
Metamorfoseando meta
Me toma em mitose no ciclo,
Reproduzindo indo indo,
Sendo reza natural 
Da natureza
Se permitindo:

Ornada cabeça de lírio,
Luzi neón pirilampo.
Matiz carapaça de besouro.
Mandíbula de saúva-soldado.
Paladar de carnaúba.
Perfume de percevejo.
Olho verde de mosquito.
Língua de zunideira vespa.
Barata, serrada a antena.
Pinça-isca escorpião.
Robusta casca andiroba.
Pêlo de aranha crespa.

Rei-rainha eusocial
Com a bunda cheia de ovos
A rebolar fecunda
De filhos novos
De vida -
E devidamente espalhadas
As mil cascas eclodidas.

Voo, voadeiro vou,
Tanto bicho no meu lumiar...
Me arrasto,
Catapulto impulso,
Bato no vidro.
Escorro, caio de amor,
Suspiro.

Canta pra noite,
Grilado,
Meu lado grilo.
Gris gris gris...
Canta três vezes no escuro
Pra ser feliz.

Olham tudo com espanto
Meus mil olhos de mosquito -
Caleidoscópio facetado
Tonto e um tanto esquisito -
Meus bichos fragmentando
Montando meus corpos de rito.

(Eus eternos explorando
As formas de vida num grito)





domingo, 9 de novembro de 2014

Invisível

INVÍSIVEL

O invisível se pôs a cantar
E a lua, porosa, se fez companhia,
Sugando as nuvens esparsas
Que acendiam altaneiras.
Tanta voz no silêncio,
Tanta vontade no olhar...
A noite adormece tonta de meu sono
E a rua vai guardando o que deixo escapar.