sexta-feira, 3 de abril de 2015

Silêncio

Havia-me chegado o silêncio
Em carruagens de cavalos dóceis
- uma pausa no ruído do tempo.

Embora me fosse um alento,
Surdo era ao relinchar dos fósseis
Que há eras me sinalizavam
A brandura do aquietamento.

Passavam por minha porta galopes
revirando o pó da estrada...
Mas eram nuvens de barro o que eu via,
E nada mais via, mais nada, mais nada...

Cansado do dia após dia,
Rebelde animal selvagem,
Dispus certo a aquietar-me
Dentro de meu coração, estalagem.
Retirei todo o pó do ouvido
E me pus atento à passagem,
Certo de que algo do olvido
Viria trazer-me a mensagem.

Na hora exata, posto ao meu portão,
Os cavalos me passaram mudos,
Ao passo que compassava o coração 
Pulsante no trote dos cascos,
Ditando o ritmo, a luz, o cheiro,
E mais que tudo isso:
Vi a imagem de meu cocheiro.

Era Eu desse tílburi o guia,
Nas mãos, as rédeas envoltas
A controlar-me em alegria
Em livres risadas soltas.
Quando parada a carruagem,
Podendo ouvir-me tão pleno,
Recebi de mim o convite 
E ingressei com o peito ameno.

Havia-me o silêncio chegado 
Em carruagem de dóceis cavalos...
Um ruído na pausa do tempo,
Atento ao momento esperado.

Mesmo não claro o destino,
Para onde me sigo indo,
Apenas escuto meus trotes
Ecoando a canção do divino.



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